sábado, 12 de outubro de 2013

Ciência no Brasil: conhecendo o ambiente

Um projeto novo é sempre complicado: ficamos sem saber ao certo por onde começar, quais os riscos, qual deveria ser o escopo, quais os benefícios...Eu me sinto um pouco assim em relação a este projeto "Entrar no mestrado".

Artigos como este da Universia indicam como encontrar um tema de pesquisa, como fazer um pré-projeto, etc. Mas para mim as perguntas estão um passo atrás: o que é ciência? Qual sua importância? Qual sua aplicabilidade? Na essência: porque eu deveria gastar meu tempo fazendo ciência em vez de, sei lá, tentar virar estrela da música pop?

Acho que quem fez iniciação científica tem estas respostas mais claras, mas como expliquei aqui, este não é o meu caso. Não vou fazer mestrado porque "é o que se faz depois da graduação" - quero e preciso de motivos. Na verdade, o que estou fazendo é, como chamamos na gerência de projetos, um estudo de viabilidade: conhecendo o ambiente, analisando os prós e contras, vendo as oportunidades e riscos, etc.

E nesse "estudo", descobri questões que não conhecia. A profissionalização do cientista, por exemplo: me dei conta de que se, por um milagre do destino, eu tivesse conseguido fazer mestrado logo depois da graduação hoje eu seria uma pessoa sem FGTS, sem INSS, sem plano de saúde, sem previdência privada. Sem nada. E isto é sério: pessoas que escolhem a vida acadêmica também precisam de direitos trabalhistas e recursos financeiros tal qual aquelas que estão no mercado. Imagina uma pessoa perto dos 30 anos, com 12 anos de estudo pós-Ensino Médio, vivendo com bolsa de R$ 2.500? Isto é salário de concurso de nível médio!

Isto pode ser normal, "no Brasil é assim mesmo", "ciência não é valorizada", "ciência não dá dinheiro", mas para mim, alienígena em relação ao meio acadêmico, é simplesmente um absurdo! Esperar por um concurso de professor federal para ter um salário decente é uma perspectiva profissional demasiadamente limitada.

Outra questão foi a baixa relevância da ciência feita no Brasil, exceção feita a alguns campos como a pesquisa ligada à agricultura e neurociência, por exemplo. Por que? Li várias possíveis respostas: escolha de temas que não são "populares", "somos um país jovem", falta de cooperação internacional, preconceito em relação aos países latino-americanos e a mais óbvia - baixa qualidade das pesquisas, com pouca ou nenhuma inovação.

O que leva a outro ponto polêmico: a avaliação da produtividade de um pesquisador com base na quantidade de artigos que publica. É o caso clássico de quantidade x qualidade - inovação requer tempo e maturação - com a pressão para publicar, artigos inacabados são lançados, textos que mal dariam TCCs viram dissertações, etc.

São muitas as questões envolvidas, mas acho importante estar ciente delas para tomar decisões mais acertadas. Por exemplo: o pesquisador no Brasil também tem que ser professor, são raros aqueles que se dedicam apenas à pesquisa (pelo que li até agora, posso estar errada..rss...). Ou seja, se eu descobrir que não gosto de docência, tenho que analisar com cuidado os próximos passos.

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